A Justiça não pode se eximir de punir exemplarmente os culpados por crimes ou fraudes, MAS, e se ela for a culpada?



O Brasil tem vivido, nos últimos dias, uma escalada de censura. Jornalistas, comentaristas políticos, emissoras de rádio, sites informativos e influencers digitais têm sido sistematicamente calados por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O estranho, nessa história, é que todos os perseguidos pela longa mão da Justiça fazem oposição ao ex-presidente Lula e a seu partido.

A última vítima desse processo de caça às bruxas em tempos de Halloween foi o jornalista Augusto Nunes da Jovem Pan. Depois de um comentário no programa “Pingos nos Is”, foi afastado das funções até o fim da eleição. Por solidariedade, dois comentaristas do mesmo programa, Guilherme Fiúza e Ana Paula Henkel, também decidiram se afastar. Na mesma Jovem Pan, personagens como Caio Copolla e Zoe Martinez já tinham tomado o mesmo rumo.

O medo toma conta das redações. Nem mesmo profissionais da velha guarda, como Boris Casoy, estão entendendo os limites impostos por ministros que deveriam trazer paz e transparência às eleições. Seus comentários titubeantes, na CNN, demonstram os dias de conflito e de terror que estamos vivendo.

Por falar em veículos de comunicação, estamos assistindo, nas últimas horas, a uma das mais graves denúncias de crime eleitoral. Milhares de inserções do presidente Jair Bolsonaro deixaram de ser veiculadas em rádios principalmente as que ficam nas regiões Norte e Nordeste. Os documentos que comprovam as fraudes já foram entregues ao TSE.

Por coincidência, o funcionário responsável por receber os arquivos com as peças publicitárias das campanhas eleitorais e disponibilizar os materiais para as emissoras de rádio e TV foi exonerado na manhã desta quarta-feira (26).

Em entrevista a um blog, o presidente Bolsonaro posicionou-se sobre as denúncias feitas por sua campanha eleitoral. “Temos provas irrefutáveis da manipulação das inserções. O TSE quer dar por encerrado e excluído demitindo esse servidor. Ele já prestou depoimento nesta madrugada para a Polícia Federal. Vai mais além. Vai no PT. E temos também, quase que certeza, na ponta da linha eles manipularam juntos. Isso é gravíssimo, isso é fraude. Isso interfere no resultado de eleições”, afirmou Bolsonaro.

Bolsonaro completou: “Sou vítima, mais uma vez, desse processo. Eu sou democrata. O TSE deve explicações. Os meus advogados estão estudando o que fazer. Porque, afinal de contas, [...] lá não chegou a nossa informação. Mais que não chegar, para o PT, foi dado o nosso tempo lá, com dezenas de milhares de inserções”.

O TSE tenta diminuir o tamanho do problema e atribuiu a exoneração do funcionário a um movimento normal dentro das carreiras públicas e nega qualquer relação com o episódio relatado pela campanha de Bolsonaro.

Para tentar afastar-se da crise, o TSE publicou em seu site um texto no qual diz que compete às emissoras de rádio e de televisão cumprirem o que determina a legislação eleitoral sobre a regular divulgação da propaganda eleitoral durante a campanha. E que cabe aos partidos fiscalizar se o material foi exibido corretamente.

É isso que a campanha de Bolsonaro está fazendo. Fiscalizando e encontrando um mar de infrações que devem ser apuradas e corrigidas a tempo da votação do segundo turno das eleições. Tamanho desequilíbrio não pode ser permitido. E a Justiça não pode se eximir de punir exemplarmente os culpados por tais crimes ou fraudes. No início da noite desta quarta-feira (26), o ministro Alexandre de Moraes rejeitou pedido da campanha de Bolsonaro para investigar as rádios.

Depois de assistirmos estupefatos, nas últimas décadas, ao mensalão e ao petrolão, agora estamos diante do radiolão. Um esquema que mais que desviar dinheiro público, roubou da população o direito de informar-se corretamente sobre uma das duas candidaturas que disputam a Presidência da República. Um fato que fere diretamente a democracia e não pode ser perdoado ou varrido para debaixo dos tapetes.

Em tempos de censura crescente, é bom sempre invocar escritores de tempos passados. William Shakespeare já escrevia para Hamlet, um de seus mais famosos personagens, a frase: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”. Essa citação atravessou os séculos e representa todo o mal escondido no seio de algumas instituições. Se também há algo de podre por aqui, temos de investigar a fundo e exigir as punições antes mesmo que as urnas se abram para receber os milhões de votos brasileiros. Só assim teremos a certeza de que a eleição foi justa e que venceu o candidato escolhido pela maioria da população.