Mais
de um Século de História
Uma visita na história de Santa Maria do
Cambucá
Edição nº 1
13 de Março de 2014
Quando
começamos a historiar os fatos ocorridos em nossa cidade, nos deparamos com uma
riqueza histórica, que merece ser resgatada. Fazer um mergulho no passado,nos
leva a compreender o pensamento de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas,
quando ele diz: “tem horas antigas que ficaram muito mais perto do que outras
em recente data”.Assim, vamos seguir viagem, reconstruir lembranças, consultar
fontes e tentar mostrar um pouco da construção da cidade de Santa Maria do
Cambucá,descrevendo de maneira sucinta, mais de um século de história.
Um
município com pouco mais de 13 mil habitantes, localizado no agreste
setentrional a 150 km da capital pernambucana. Fundada em 1876 pelo Frei
Ibiapina. Sua povoação iniciou-seao redor da capela de Nossa Senhora do Rosário.
Primitivamente teve a denominaçãoCarrapato
e pertencia ao território do município de Taquaritinga do Norte. Seus primeiros
habitantes foram: José Ferreira de Azevedo, Cornélio Clarêncio de Queiroz,
Alvino Correia de Queiroz, Pedro José de Alcântara, Tenente Coronel José Braz
Pereira de Lucena, Capitão Elias de Queiroz, Coronel Vicente Correia de
Queiroz, Capitão Manoel Melquiades de Almeida e o Alferes Melquiades Ferreira
de Almeida.
Passou
à categoria de Vila em 25 de julho de 1895 echamava-seSanta Maria. Alguns anos depois, por sugestão do Instituto Arqueológico
Histórico Geográfico de Pernambuco, adotou o nome de Ibiapinaem 1º de janeiro de 1938, para diferenciar-seda cidade de
Santa Maria no Rio Grande do Sul.Em 1944,descobriu-se que já existia uma cidade
no Ceará com o nomede Ibiapina e devido ao ocorrido passou a ser denominadaCambucá.
E só então, em 1º de janeiro de 1964 foi sancionada a lei nº 4.955, pelo
até então Governador Miguel Arraes de Alencar, emancipando o município em 20 de
dezembro de 1963, passando doravante a ser denominada de Santa Maria do
Cambucá.
O
nome Cambucá se deve a uma espécie de árvore
que existia no município. Atualmente a cidade é conhecida também como terra do caju,
calcário e cidadãos ilustres, trás no berço um povo guerreiro e hospitaleiro.
Antônio Silvino e seu bando |
Um
fato histórico, que ocorreu em Santa Mariado Cambucá, nos faz mergulhar em uma época,
em que homens faziam do Cangaço, uma forma de justiça baseada na força bruta. Conta
à história que o Coronel José Braz,homem mais influente do lugar, político,
proprietário de terras e criador de gado, que depois de ter dado guarida a
policiais que estavam à procura do cangaceiro Antônio Silvino e seu bando e coagido
por políticos da época,rebelou-se com o até então seu amigo que era o chefe da
malta. E enviando-lhe mensagem, disse que, “se ele tivesse a audácia de vir a
Santa Maria não seria recebido com banda de música e fogos, como foi numa
cidade do Rio Grande do Norte, mas seria sim, recebido à bala porque era o que
merecia diante de sua prepotência e de todo mau que fizera no Nordeste”.
Antônio Silvino, prontamente enviou um portador para certificar-se de tamanho
desaforo. Confirmado os fatos, prometeu que a qualquer hora visitaria o
povoado. Após meses de angústia e temor de todos os moradores e comerciantes,
quando se retomava a confiança e acreditava-se que o cangaceiro desistirá de
invadir o povoado,em uma segunda-feira do dia 12 de junho de 1912, o cangaceiro
Antônio Silvino conhecido como “Rifle de ouro” e o seu bando, invadiram Santa
Maria em plena luz do dia durante a feira.Depois de uma grande troca de tiros
que culminou na rendição do coronel, o cangaceiro toma a decisão de não matá-lo
por conta da ousadia de sua filha Santa, que intercedendo pela vida do seu pai,se
propôs morrer em lugar do mesmo. Impressionado com tanta coragem, Antônio
Silvino pede R$2,00 contos de réis para ir embora. Logo em seguida, saqueou
quase todo comércio, distribuiu a mercadoria ao povo e ateou fogo nas casas
comerciais, partindo então, de Santa Maria.
Antônio Silvino e seu Bando |
Depois
da invasão histórica e reconstrução da vila, chegamos a outro ano que merece
destaque. Segundo a história, no ano de 1964, assume como 1º primeiro prefeito
eleito constitucionalmente, um grande líder político,que tinha por nome -
Perícles Bezerra Almeida.Durante o exercício de três mandatos,praticamente construiu
a cidade.O prédio da prefeitura foi inaugurado com o seu nome. Após Perícles,
sucederam-se grandes nomes na política, entre eles: Zacarias Falcão Filho, José
Severino de Azevedo, Mário Alves de Lima, Antônio David de Souza, Elizeu João de
Souza e atualmente Alex Robevan de Lima.
Ainda
podemos citar o relato do ex-prefeito da cidade, o senhor José Severino Azevedo,
conhecido também como Sr. Zé Rebolo,que no exercício do seu mandato, que se deu
entre os anos de 1977 a 1982 descreve com muito saudosismo o seu tempo na
política e na vida social, comentando sobre as mudanças de lá pra cá. “Ser
prefeito naquela época era complicado, as dificuldades existiam, e não eram
poucas,o acesso a hospitais e médicosera muito difícil, as pessoas da minha
geração nasceram através das mãos de Madrinha Sinhá, parteira da época. Até para
estudar era difícil, só havia um grupo escolar do estado. Tudo que era
construído tinha que ser com recursos próprios. Durante o passar dos anos a cidade
cresceu muito, está bonita, diferente do meu tempo.Infelizmente não tenho fotos
- só a lembrança - sinto saudades dos amigos que se foram, sinto saudades de
Peri (Péricles Bezerra de Almeida, 1º Prefeito da cidade). “Aprendi que amigo é como diz Nelson
Gonçalves, palavra fácil de pronunciar, porém, difícil de encontrar.” Amo e
adoro minha terra, nasci aqui e aqui vou ficar. Não tem Paris, não têm Estados
Unidos e não têm nada que vai me tirar de Santa Maria do Cambucá, conheço todo
mundo, entro na casa de todo mundo, daqui só saio quando Deus me chamar”.
No
ano de 1992, o ilustre cidadão, Desembargador Dr. João David de Souza Filho, que
nessa época era Presidente do Tribunal de Justiça, transformou o município em
sede de Comarca, em seu discurso chegou a afirmar que aquele era o dia de maior
significação em sua vida de magistrado, porque cumpria o compromisso de levar a
justiça a sua cidade natal. Dr. João mesmo afastando-se da cidade por conta da
profissão, nunca se desligou totalmente, e faz questão de enfatizar seu amor
pela terra. Guarda na memória as lembranças das noites de maio, “Lembro muito
bem das noites de maio, era uma festa aqui na frente de casa. Minha mãe gostava
muito, o povo estava empolgado com a criação da nova paróquia. O vigário fez
uma bela matriz, justiça se faça, mas não é a original”.
Para
o futuro de Santa Maria, Dr. João não tem muitas expectativas, “A administração
tem se sucedido e a gente não vê resultados práticos, não sei como vai ser
daqui para frente”.
Na
área da música conta-se que um senhor, conhecido como Maestro Lalau saiu do Rio
de Janeiro para morar em Vertentes. Com sua formação musical o maestro formou
uma banda, assim que chegou ao local. Para anunciar sobre os ensaios da mesma, tocava-se
o bumbo em cima da serra e os interessados iam andando até lá. A partir daí,
eles tiveram grandes frutos, como Manoel de Lima (pai de Dr. Mário Lima), Seu
Amaro da Juliana, as filhas de Seu Manoel Canarinho - entre elas, Dona Lucila,
e tantos outros que se sucederam.
O
professor de história Jorge Silva afirma ainda que, “é necessário trabalhar com
a juventude e desenvolver o aspecto social da cidade, com teatro, esporte e
música de qualidade”. O professor também lembra que em sua época de garoto, a
juventude era mais participativa e envolviam-se mais em projetos, como oda
Banda Fanfarra da Escola Agripino de Almeida, que foi fruto de uma época em que
ser músico fazia a diferença. Essa prática mantinha a mente dos jovens daquela
geração ocupada e despertava novas perspectivas, os alunos percebiam que eram
capazes de muito mais. O professor Jorge ainda afirma, “precisamos desenvolver
mais políticas públicas voltadas para os jovens, além de não existir uma
consciência cultural e um amadurecimento político, entre a juventude”.
Corroborando
com a fala de Jorge Silva, o Maestro Flávio César nos relata que a sociedade tem
fechado as portas para cultura, esquecendo-se de suas raízes e deixando de lado
a sua história. Segundo ele, que discorrendo sobre a nossa vivência
contemporânea, mostra-se preocupado com a desvalorização de algumas tradições
antigas, atentando ao fato de não estarmos repassando a cultura para a
população mais jovem, ocasionando na perca dos valores com o passar do tempo. Um
exemplo dissoé a perda gradativa das bandas de pífanos que estão se desfazendo,
juntamente com as cirandas, e outras expressões locais.O professor Flávio diz
que atualmente só existe uma banda de Pífano, no Povoado Caramuru, e lembra-se
da existência de outra Banda de Pífano no Sítio Juliana,que se estivesse ativa,
neste ano de 2014 completaria 100 anos. Para o professor Flávio César, o mais
importante é a valorização. “Hoje temalguns jovens cantando e fazendo as coisas
deles, mas são coisas atuais, as coisas que passaram, as coisas que tem raiz, e
que tem fundamento, hoje não existem mais. Devemos sempre fazer as festas dando
espaço para as pessoas da terra, faça isso ou faça aquilo, com determinado
tempo à própria comunidade vai abraçar”.
Outro
fato marcante em nossa cidade é a realização da feira livre que acontece nas
segundas feiras a mais de um século. Um dos primeiros comerciantes que negociava
na cidade foi o Sr.José Patrício. Outro nome citado é o deJosé de Guimarães, conhecido
como Sr. Piu, surubinense que comercializava tecido em toda região.
E
foi assim, que na construção de cada história, de cada pessoa e lugar, que descobrimos
um diálogo constante entre o passado e o presente, diálogo muitas vezes silencioso,
difícil de ser entendido, porém de uma importância significativa para o
conhecimento e reconhecimento de nossa história, que povoada de gestos,
símbolos, desejos e recordações nos arremete a um futuro de muita esperança.
BANDEIRA DE SANTA MARIA DO CAMBUCÁ |
Hino de Santa Maria do
Cambucá
Letra: Antônio José da
Silva Música: Flávio César T. Diunisio e Antônio José da Silva
Vejo lindo sol raiar
Por trás desta serra encantada
Com lindos frutos do cambucá
Esse é o símbolo da terra querida
(Refrão)
Ó terra querida
Meu berço natal
Por ti darei a vida
Tu és sem igual
No nordeste em Pernambuco
No agreste setentrional
Santa Maria do Cambucá
És para mim cidade imortal
Dando toque de alvorada
Pardais cantam com muita alegria
Tu tens calor de um sol brilhante
Com a magia de um novo dia
Tens o nome da mãe de cristo
Só contigo sempre sigo avante
A tua área é tão pequena
Mas o teu povo é tão forte e gigante.
SANTA MARIA DO CAMBUCÁ - 2013 |
21 Comentários
Adorei saber um pouco sobre minha cidade,amo esse lugar.Parabéns excelente trabalho.
ResponderExcluirQue bom que gostou Andréa... Seu comentário foi muito bem recebido. Vamos Divulgar nossa História. :)
ExcluirQuantas saudades e lembranças voltaram a minha mente ao ler a história da minha terra natal. Hoje vivo longe. Dedico-me à literatura infantil e sonho um dia voltar à minha cidade levando cultura e conhecimento para as crianças através dos meus livros.
ResponderExcluirA historia desta pequena cidade (não mais), comparando-a nos meus tempos de criança, aprendíamos na escola, pena que muito desta história não esteja registrada em mais fotos antigas.
ResponderExcluirNesse ano de 2019 mais preciso 19 de abril lhe um pouco sobre minha cidade e fiquei inlustrado em saber mais,amo história dessa cidade maravilhosa...
ResponderExcluirASS: LUCAS IVANILDO DA SILVA
ExcluirAchei muito interessante toda história, só fico triste porque tenho família Air do meus avós e não conheço pois irei morrer sem família fui abondonada mais lembro que ainda pequenina estive nessa cidade e essa famlfam era dos Souzas só isso que sei 😭😭😭😭😭 9 88521874 sou de Vitória de santo Antão trabalho com o deputado Henrique Queiroz
ResponderExcluirGostaria de saber porquê a escola "Júlio Tributino de Araújoé leva esse nome. Quem foi esse homem? Há familiares desse vulto por aí?
ResponderExcluirGratidão!
Aguardo contato.
Minha filha adorou quando eu li toda história da nossa cidade
ResponderExcluirEu amo a cidade de Santa Maria do cambuca eu tenho orgulho da minha cidade.
ResponderExcluir🥰🥰🥰🥰🥰
Amei! Parabéns! Eu sonhei muito com esses matérias.
ResponderExcluirAutor do nosso hino: Antônio?
ResponderExcluirMinhaminha te
ResponderExcluirNossa fiquei muito feliz em saber da história da minha cidade!
ResponderExcluirMuito boa essa história da cidade de Santa Maria do Cambucá. Parabéns 👏
ResponderExcluirGostaria de saber mais sobre o tenente José Alvino Correia de Queiroz e demais famílias da região com o mesmo sobrenome.
Parabéns pelo extraordinário relato histórico!
ResponderExcluirFico muito feliz em ter colaborado com resgate fotográfico, através do meu Projeto Minha Rua Tem Memória.
Santa Maria do Cambucá, precisa muito de um trabalho desse, resgatar mais e preservar toda a sua história.
Mais uma vez, parabéns aos seus historiadores e ao seu povo que continua fazendo e escrevendo a sua Memória. 👏👏👏👏👏
Ainda tenho um grande acervo em vídeo sobre a cidade e sua gente da década de 90.
Opa. Tudo bem? Teria como compartilhar comigo os videos sobre Santa Maria do Cambucá?
ExcluirGostaria de saber sobre o Brasão, já vi a Bandeira e o Hino da cidade, aonde encontrar o Brasão?
ResponderExcluirQuem foi seu idealizador?
Vi que várias pessoas que fundaram Santa Maria do Cambucá tem o sobrenome Correia de Queiroz, sobrenome do meu bisavô Severino Correia de Queiroz que também viveu nesta cidade. Gostaria de saber se há relação de parentesco entre meu bisavô e José Alvino Correia de Queiroz, Coronel Vicente Correia de Queiroz e os demais.
ResponderExcluirSou da família Falcão, meu avô Renato Falcão era filho de Zacarias Falcão, que era dono de uma casa que vendia castanha de caju na cidade.
ResponderExcluirGostaria de entrar em contato com os descendentes do ex-prefeito Seu Caria, Zacarias Falcão Filho.
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