A procura é maior que a oferta e produtores de cacau não estão dando conta
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press/Arquivo


Parece que o mundo anda comendo chocolates demais. Ao menos é o que garante as empresas Mars Inc. e Barry Callebaut, as maiores fabricantes do produto. De acordo com o blog Radar Econômico, o déficit de chocolate, situação em que os agricultores produzem menos cacau do que o mundo consome, está se tornando mais frequente. 

As razões para tamanho descontrole no consumo da iguaria são muitas. A primeira é o próprio aumento da demanda, que cresce a cada ano e tende a seguir nesse ritmo. Enquanto no ano passado se consumiu cerca de 70 mil toneladas métricas além do volume produzido, em 2020 esse número pode atingir 2 milhões de toneladas métricas.

O segundo motivo é a oferta do cacau, a matéria-prima do chocolate. Os países da África Ocidental onde se concentra a maior produção da fruta – para se ter ideia, Costa do Marfim e Gana produzem mais de 70% do cacau de todo o mundo – estão sofrendo com o clima seco e, com isso, reduzindo a produção na região. Como se não bastasse a redução, uma praga decorrente de um fungo chamado Moniliophthora roreri afetou a produção de cacau em até 40%.

Por fim, o consumidor final também paga o preço. O insaciável apetite dos chocólatras tem prejudicado bastante no consumo. A maior dor de cabeça vem da China, o país mais populoso do mundo, que não para de comprar o produto. Um outro agravante é a procura por chocolates amargos, que possuem até 60% mais cacau que os chocolates tradicionais. 

Com isso, desde 2012 que o cacau sofre constante aumento e até os chocolates em barra ficaram mais caros. Mas ainda assim, a situação não foi contornada e, até hoje, o desequilíbrio entre oferta e procura aumenta a cada dia. 

Pesquisadores começam a estudar alternativas para suprir a carência dos chocolates. Um grupo de pesquisa agronômica da África Central está desenvolvendo árvores capazes de produzir até sete vezes mais cacau do que as plantas tradicionais. Mas o aumento na eficiência pode prejudicar o sabor, diz Mark Schatzker, da Bloomberg. Há tentativas em andamento para tornar o chocolate barato e abundante – e, nesse processo, o doce acaba ficando tão sem sabor quanto tomates comprados nas lojas de hoje. Ainda não se sabe se o consumidor vai se queixar do sabor mais fraco se isso mantiver os preços baixos. E a indústria não vai se importar com isso, desde que o risco de uma grande escassez seja completamente descartado.