Cidades do interior devem aderir e fazer seus planos de retomada da convivência.
Carlos Madeiro
Colaboração para o UOL, em Maceió
04/06/2020 04h00
As medidas com as quais as pessoas terão de se acostumar vão além de usar máscara e álcool em gel
Imagem: Leandro Ferreira/Fotoarena/Estadão Conteúdo |
Na última segunda-feira (1º), em vez de um plano de reabertura de setores da economia, Pernambuco inovou na nomenclatura e apresentou o "Plano de Monitoramento e Convivência com a Covid-19". O termo é defendido por especialistas, que citam não só o retorno de atividades, mas alertam para uma "nova normalidade" que nos espera.
As medidas com as quais as pessoas terão de se acostumar vão além de usar máscara e álcool em gel. Envolvem uma série de comportamentos que devem ser tomados, testagem rotineira e até novos momentos de isolamento social. Isso, claro, enquanto não houver uma vacina contra o coronavírus.
Pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia, Felipe Naveca afirma que a reabertura só deveria começar quando houver a certeza de que o número de casos da covid-19 está em queda.
"Tenho medo de que a gente esteja fazendo isso de forma prematura. Em outros países, como Alemanha e Espanha, fizeram depois de um lockdown muito rígido e já na curva em descendência. Eu só começaria quando estiver num platô ou em uma curva descendente", opina.
Adaptação a uma nova rotina
Segundo o plano pernambucano, algumas medidas definidas já dão o ar do que será a nova normalidade. Uma delas é que as empresas e órgão públicos devem identificar as "funções que podem efetuar suas atividades por meio de teletrabalho ou trabalho remoto, priorizando, sempre que possível, essa modalidade de trabalho".
Sendo assim, pessoas dos grupos de risco devem ter prioridades. Ou seja, se você tem comorbidade ou é idoso, pode pensar em manter as atividades em casa por mais tempo. No contexto da covid-19, comorbidades como diabetes, obesidade, hipertensão, tuberculose, entre outros, aumentam o risco de agravamento do quadro do paciente.
Outra ação prevista é que trabalhadores e empregadores devem ser isolados imediatamente — e por até 14 dias — em caso de qualquer sintoma gripal. Assim, podem-se evitar contaminações coletivas e o fechamento de empreendimentos ou repartições inteiras.
"Acho que voltar normal mesmo só quando tivermos a vacina. Até lá, vamos conviver com o risco de ter uma segunda e terceira ondas [de covid-19]. Afinal, vai ter população suscetível, vírus circulando e o risco começar tudo de novo", observa o pesquisador da Fiocruz Amazônia.
Segundo ele, deverá haver períodos intercalados de isolamento social. "Teremos de alternar medidas mais e menos restritivas, de acordo com o número de casos e com a superlotação das unidades [de saúde]. E manter as medidas de precaução individuais de uso de máscara e lavar as mãos muitas vezes, ainda por um bom tempo, e não só por conta do novo coronavírus", afirma Naveca.
Um bom parâmetro citado pelo pesquisador é o vírus da Influenza H1N1. "Ocorreu a pandemia dele em 2009, e até hoje há casos — e estamos falando de um vírus para o qual existe vacina."
É preciso realizar mais testes
Pesquisadora e professora de doenças infecciosas aposentada da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Vera Magalhães alerta para o fato de que nem mesmo indivíduos que foram infectados sabem se estão imunes, e por quanto tempo, para a covid-19. Por esse e outros fatores, aglomerações devem ser evitadas e medidas de prevenção devem continuar.
"Essa abertura gradual e intermitente pode e deve ser adotada, como está sendo feito em outras partes do mundo. Entretanto, eu questiono isso ocorrer agora pelos dados que temos. Não estamos testando em grande quantidade. Existem muitas pessoas com covid que não estão sendo testadas, e por isso não entram nas estatísticas, e não temos como analisar de forma precisa e segura o número real de doentes", avalia
O professor Sérgio Lira, do Instituto de Física da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) e integrante do comitê científico do Consórcio Nordeste, endossa a necessidade de programas de testagem da população para o controle de casos do coronavírus.
"Para termos uma ideia melhor, dentre as medidas que as regiões do estado de Nova York estão adotando para poder reabrir com segurança, está a capacidade de conduzir 30 testes diagnósticos para cada mil residentes.
Além disso, as regiões precisarão contar com pelo menos 30 rastreadores de contato para cada 100 mil residentes, para manter um constante rastreamento da cadeia de contágio. Para reabrir evitando muitas mortes, também deveríamos seguir estes passos", afirma.
Em artigo científico produzido com o professor Fábio Guedes, também da Ufal, Lira defende ainda que 30% dos leitos clínicos e de UTI (unidades de terapia intensiva) precisam estar disponíveis, e hospitais devem ter um estoque de 90 dias de EPIs (equipamentos de proteção individual). Além disso, os pesquisadores reforçam que cada local terá seu tempo ideal para pôr em prática um plano de convivência.
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