Surto de Ebola está 'fora de controle' em partes da África, alerta MSF
Carolina Montenegro
De Genebra BBC
Surto de Ebola é o maior da história já matou quase 500 pessoas em três
países da África Ocidental
Com o aumento exponencial no número de casos de Ebola na África
Ocidental, a organização médica internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF)
alerta para o risco de uma epidemia regional.
"O surto está fora de controle', afirmou à BBC Brasil Mariano
Lugli, diretor de operações do MSF na Suíça.
A equipe de Lugli lidera a assistência humanitária na região desde
fevereiro. Com cerca de 300 profissionais em campo, a organização já atendeu
cerca de 500 pacientes e está no limite de sua capacidade operacional.
Em quatro meses, o surto de Ebola que surgiu em Guiné já se espalhou
para dois países vizinhos, Libéria e Serra Leoa.
"Há um movimento constante e intenso de pessoas cruzando fronteiras
nesta região e os casos estão se espalhando rapidamente para mais províncias e
países", explicou Lugli.
A doença já se alastrou para mais de 60 localidades diferentes na África
Ocidental e ainda não atingiu seu pico.
"Em geral, isso deveria ter acontecido entre dois e cinco meses,
mas é impossível prever especialmente porque agora há uma variante do vírus que
causa febre hemorrágica e é muito perigosa", afirmou Lugli.
Até agora, 759 pessoas foram infectadas pelo vírus e 468 morreram.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), este é o maior surto de Ebola já
registrado na história.
O vírus mata cerca de 90% das pessoas infectadas e o contágio acontece
por contato direto com fluidos corporais, como sangue e secreções, de uma
pessoa infectada. Não há vacina ou cura para a doença.
Plano de ação
No início desta semana, a OMS realizou uma reunião de emergência sobre o
surto. Ministros de 11 países africanos se reuniram em Acra, Gana, para
discutir como controlar o surto de Ebola.
No encontro, as autoridades concordaram em ampliar a coordenação e monitoramento
da doença, com foco nas regiões fronteiriças. Para isso, a OMS anunciou a
criação de um centro regional de apoio técnico em Guiné.
No entanto, a organização ainda não prescreve nenhum tipo de restrição a
viagens para a África Ocidental ou entre países da região. Segundo a OMS, o
risco de disseminação da doença é considerado alto nos países fronteiriços,
moderado no restante do continente africano e baixo no restante do mundo.
"Agora a comunidade internacional reconheceu o problema e todo
mundo entende a necessidade de coordenação, mas é preciso ver como isso se
traduzirá em ação", afirmou Lugli.
Apoio local e
internacional
Mobilizar líderes comunitários, religiosos e políticos para ampliar o
conhecimento sobre a doença também foi outro destaque do plano da OMS.
"A coisa mais importante agora é sensibilizar a população e os
agentes de saúde locais, além da maior coordenação entre as autoridades
regionais para controle e supervisão de casos em aeroportos e portos",
disse Lugli.
Há quatro meses, ele esteve em Guékédou, na fronteira de Guiné com a
Libéria, quando foram registrados os primeiros casos.
"As pessoas estavam com muito medo e os médicos locais não
conheciam a doença", explicou.
Na região, é comum o uso de medicina popular e curandeiros. Médicos têm
pouca experiência em lidar com isolamento –a única alternativa de tratamento
para o Ebola.
"Os pacientes que sobrevivem são aqueles que naturalmente
desenvolvem anticorpos contra o vírus, mas para isso é preciso tempo e
isolamento", explicou Lugli.
Estima-se que cada pessoa contaminada mantenha contato com ao menos
outros 20 indivíduos, que também devem ser isolados e monitorados para controle
do Ebola. Outro agravante comum é o descuido no manuseio de corpos de vítimas
da doença.
Atualmente, o MSF é a única organização internacional humanitária
atendendo vítimas do Ebola na África Ocidental.
"Estamos no nosso limite. É urgente que mais atores internacionais
competentes também apoiem na resposta ao surto", afirmou Lugli.
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